quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Atualização


Hoje o Psico pra Tia está mudando do blogspot para o tumblr, que suporta formatos mais variados. Isso vai ajudar a criar um blog mais ativo e interessante.
Te vejo por lá: http://psicopratia.tumblr.com/!!!

Antissobriedades [1]



"A História nos ensina que homens e nações se comportam sabiamente quando já exauriram todas as outras possibilidades." 
- Abba Eban


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A última das liberdades humanas

Sei que isso não é nenhuma novidade, mas, crenças à parte, nossa vida está limitada à condição do aqui e agora: único lugar e momento em que podemos viver.
E o que você diria se imaginássemos que, além de restritos a essa condição, ainda fazemos pior, vivendo encarcerados? Ou melhor, como Prisioneiros de Nossos Pensamentos?
Sei que a introdução foi um pouco dramática, mas é bastante pertinente. Alguém já disse que nossa mente pode fazer do paraíso um inferno ou do inferno um paraíso, e essa é a idéia que nos interessa aqui.
A vida está aí e não nos apresenta um cardápio a cada café-da-manhã, simplesmente os eventos se sucedem. Mas Alex Pattakos, autor do livro em questão, remete à noção de última liberdade humana: nossa capacidade de escolher que reação teremos a cada estímulo da vida.
Fica mais simples se observarmos o quadro abaixo:

O que o autor explora, baseado no grande Viktor Frankl, são as possibilidades de se viver acima do eixo horizontal: uma existência com sentido. Fracasso e sucesso obviamente têm sabores diferentes para quem os experimenta, mas podem ser ambos preenchidos de significado. E este seria o núcleo de uma vida significativa.
Nesse contexto, o autor discorre sobre sete princípios para uma vida com sentido:
  • somos livres para escolher nossas atitudes em relação ao que nos acontece
  • nosso desejo por sentido é um empenho consciente em valores e objetivos significativos
  • sentido em todos os momentos da vida
  • podemos descobrir como trabalhamos contra nós mesmos
  • é possível nos distanciar de nós mesmos e adquirir uma nova perspectiva
  • podemos mudar nosso foco de atenção ao lidarmos com situações difíceis
  • é possível ir além dos nossos limites e ajudar o mundo
Fácil escrever, um pouco mais difícil de aplicar. Bem, o que não nos falta é oportunidade de experimentar: cada momento demanda novas respostas. E quanto mais pessoalmente significativas, mais sentido tem a vida no aqui e agora.


Observações: 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Difícil de decidir

Método clássico, elegante, simples e interessante para momentos de confusão. Não indica o que você deve fazer, mas ajuda a esclarecer o que você gostaria de fazer.


"Quando se deparar com duas opções, apenas jogue uma moeda. Funciona não porque responde sua dúvida, mas porque, no breve instante em que a moeda está no ar, você de repente percebe que resultado está esperando."


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Prazeres proibidos

Todos nós, que temos espelho e conta bancária, sabemos que avaliamos os outros e a nós mesmos por meio de comparações. E se você pensava que a inveja derivada das comparações era um pecado grave, é porque ainda não sabe o que é schadenfreude.
Pesquisadores publicaram na revista Science um estudo mostrando como essas duas sensações ocorrem no nosso cérebro.
Primeiro, a inveja. Germina quando nos comparamos com alguém cujas qualidades consideramos
  • auto-relevantes (nadar rápido é importante para o César Cielo, mas pode ser indiferente para o Felipe Massa) e
  • superiores (você & seu marido x Angelina Jolie & marido da Angelina Jolie).
Nessas situações, observou-se que ativamos a região dorsal do córtex cingulado anterior (dACC), normalmente ativa quando processamos conflitos cognitivos e dor social...
Agora, a mais nova palavra do seu vocabulário: schadenfreude. Para facilitar, vamos criar uma situação. Imagine alguém como o Eike Batista e suponha que você sentisse inveja, por exemplo, caso ele fosse rico e casado com uma mulher admirável. Então, imagine como você se sentiria descobrindo que esta admirável senhora teve um caso com um homem simples, e.g., um bombeiro. Pronto, isso é schadenfreude: a alegria no seu coração quando uma pessoa invejada tem azar.
Este estudo revela que, quando você sente schadenfreude, há ativação no estriato ventral, envolvido no

processamento de recompensas (prazer).

É feio, ninguém assume e consta na Bíblia que pagaremos por isso... mas, mesmo fisiologicamente, o seu prazer pode ser o meu sofrimento. E o seu sofrimento, a razão do meu prazer.


Observações:

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Traições mnemônicas

Quem nunca se empolgou para contar aquela piada, aquela história incrível a um amigo e, pouco depois de começar a narração, foi constrangedoramente interrompido pelo comentário “Mas fui EU quem te contou isso!”? Pois bem, esses que atirem a primeira pedra.
Estamos todos seguros, provavelmente ninguém vai atirar nada (pelo menos, não por isso). Psicólogos americanos constataram, em um estudo publicado na revista Psychological Science, que se trata de um tropeço natural da memória e pode surpreender qualquer um de nós. Vamos entender.
Memória de origem – identifica a fonte da informação.
Fundamental quando, no consultório, me lembro da história de cada paciente, sem confundi-los.
Memória de destino – identifica o destino da informação.
Fundamental quando você, com a melhor das intenções (sempre!), contou diferentes versões de um mesmo fato para diferentes pessoas. Para sustentar sua mentira (nome que se dá a este outro fenômeno...), é imprescindível saber para QUEM você contou O QUÊ.
No entanto, essas memórias funcionam diferentemente.
Quando recebemos uma informação, estamos  
focados no contexto
Associamos seus elementos (e.g., a história que ouvimos e seu narrador) e essas associações nos ajudam a lembrar o que aconteceu com quem e quando. Por isso, a memória de origem é mais precisa.
Quando passamos uma informação, além do contexto, estamos bastante 
focados em nós mesmos
no modo como contamos. Ou seja, ficamos divididos entre nós mesmos e o outro, que recebe menos atenção. Por isso, a memória de destino falha mais.
Em resumo: atenção e memória trabalham juntos. Diminuindo o foco em si mesmo – que pode não ser simples, se você vive nessa cultura –, sua memória agradece e promete te constranger menos.

Observações:

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Terapia para o coração

[Advertência: postagem em linguagem técnica] 
A literatura científica evidencia a relação entre fatores psicossociais1 (estados emocionais, eventos estressores agudos/crônicos e suporte social) e doenças cardíacas, apontando a possibilidade de prevenção e atenuação destas patologias por meio de intervenção cognitiva ou comportamental, como propõe o novo campo da cardiologia comportamental2.
Condições emocionais que são fatores de risco significativo para doenças cardiovasculares incluem
  • Depressão: associada a doenças coronarianas arteriais3 e cardíacas4,5, infarto do miocárdio6,7, isquemia cardíaca8 e parada cardíaca7;
  • Ansiedade: associada a infarto do miocárdio e morte em pacientes com doenças coronarianas arterial e cardíacas9,10;
  • Preocupação: associada à aceleração do ritmo cardíaco e à redução da sua variabilidade11 (fatores de risco para doenças cardiovasculares) e ativação das atividades cardiovascular, endócrina e imunológica12;
  • Agressividade: associada à morbidade e à mortalidade13,14 por comprometimentos cardiovasculares;
  • Estresse: associado a doenças coronarianas arterial e cardíacas15,16, provoca a ativação prolongada da atividade cardíaca17,18.
A interação entre esses fatores e doenças cardíacas é tradicionalmente explicada pela reatividade fisiológica, segundo a qual respostas fisiológicas elevadas durante eventos estressores excitam o organismo19,20, levando a mudanças no balanço fisiológico e conduzindo ao adoecimento. Mais recentemente, entende-se que a perseveração cognitiva (ou ruminação mental) permite um esclarecimento adicional: a inflexibilidade prolonga a ativação cognitiva provocada pelos eventos estressores, estendendo a reatividade fisiológica, o que contribuiria para o desenvolvimento de conseqüências nocivas à saúde, incluindo doenças cardiovasculares17,21.


Referências bibliográficas:

1. Everson-Rose, Susan A., & Lewis, Tené T. (2005). Psychosocial Factors and Cardiovascular Diseases. Annual Review of Public Health, 26, 469-500.
2. Rozanski, A., Blumenthal, J. A., Davidson, K. W., Saab, P. G., & Kubzansky, L. (2005). The Epidemiology, Pathophysiology, and Management of Psychosocial Risk Factors in Cardiac Practice - The Emerging Field of Behavioral Cardiology. Journal of the American College of Cardiology, 45, 637-651.
3. Rozanski, A., Blumenthal, J. A., & Kaplan, J. (1999). Impact of Psychological Factors on the Pathogenesis of Cardiovascular Disease and Implications for Therapy. Circulation, 99, 2192-2217.
4. Bunker, S. J., Colquhoun, D. M., Esler, M. D., Hickie, I. B., Hunt, D., Jelinek, V. M., Oldenburg, B. F., Peach, H. G., Ruth, D., Tennant, C. C., & Tonkin, A. M. (2003). “Stress” and coronary heart disease: psychosocial risk factors. The Medical Journal of Australia, 178, 272-276.
5. Whang, W., Kubzansky, L. D., Kawachi, I., Rexrode, K. M., Kroenke, C. H., Glynn, R. J., Garan, H., Albert, Christine M. (2009). Depression and Risk of Sudden Cardiac Death and Coronary Heart Disease in Women - Results From the Nurses’ Health Study. Journal of the American College of Cardiology, 53, 950-958.
6. Sirois, B. C., & Burg, M. M. (2003). Negative Emotion and Coronary Heart Disease: A Review. Behavior Modification, 27, 83-102.
7. Grippo, A. J., & Johnson, A. K. (2009). Stress, depression, and cardiovascular dysregulation: A review of neurobiological mechanisms and the integration of research from preclinical disease models. Stress,12, 1-21.
8. Johnson, A. K., & Grippo, A. J. (2006). Sadness and Broken Hearts: Neurohumoral Mechanisms and Co-Morbidity of Ischemic Heart Disease and Psychological Depression. Journal of Physiology and Pharmacology, 57, 5-29.
9. Barger, S. D., Sydeman, S. J. (2005). Does generalized anxiety disorder predict coronary heart disease risk factors independently of major depressive disorder? Journal of Affective Disorders, 88, 87-91.
10. Kawachi, I., Sparrow, D., Vokonas, P. S., Weiss, S. T. (1994). Symptoms of anxiety and risk of coronary heart disease. The Normative Aging Study. Circulation, 90, 2225-2229.
11. Pieper, S., Brosschot, J. F., van de Leeden, R., Thayer, J. F. (2007). Cardiac Effects of Momentary Assessed Worry Episodes and Stressful Events. Psychosomatic Medicine, 69, 901-909.
12. Brosschot, J. F., Gerin, W., & Thayer, J. F. (2006). The perseverative cognition hypothesis: A review of worry, prolonged stress-related physiological activation, and health. Journal of Psychosomatic Research, 60, 113-124.
13. Kubzansky, L. D, & Kawachi, I. (2000). Going to the heart of the matter: do negative emotions cause coronary heart disease? Journal of Psychosomatic Research, 48, 323-337.
14. Chida, Y., & Steptoe, A. (2009). The Association of Anger and Hostility With Future Coronary Heart Disease - A Meta-Analytic Review of Prospective Evidence. Journal of the American College of Cardiology, 53, 936-46.
15. Strike, P. C., & Steptoe, A. (2004). Psychosocial Factors in the Development of Coronary Artery Disease. Progress in Cardiovascular Diseases, 46, 337-347.
16. Schwartz, A. R., Gerin, W., Davidson, K. W., Pickering, T. G., Brosschot, J. F., Thayer, J. F., Christenfeld, N., & Linden, W. (2003). Toward a Causal Model of Cardiovascular Responses to Stress and the Development of Cardiovascular Disease. Psychosomatic Medicine, 65, 22-35.
17. Pieper, S., & Brosschot, J. F. (2005). Prolonged Stress-Related Cardiovascular Activation: Is There Any? Annals of Behavioral Medicine, 30, 91-103.
18. Kamarck, T. W., Schwartz, J. E., Shiffman, S., Muldoon, M. F., Sutton-Tyrrell, K., Janicki, D. L. (2005). Psychosocial Stress and Cardiovascular Risk: What is the Role of Daily Experience? Journal of Personality, 73, 1749-1774.
19. Wright, C. E., O'Donnell, K., Brydon, L., Wardle, J., Steptoe, A. (2007). International Journal of Psychophysiology, 63, 275–282. 
20. Lovallo, W. R., & Gerin, W. (2003). Psychophysiological Reactivity: Mechanisms and Pathways to Cardiovascular Disease. Psychosomatic Medicine, 65, 36-45.
21. Larsen, B. A., Christenfeld, N. J. S. (2009). Cardiovascular Disease and Psychiatric Comorbidity: The Potential Role of Perseverative Cognition. Cardiovascular Psychiatry and Neurology, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2790803/, acessado em 02.02.2010.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Meu querido ex

Relacionamentos costumam ser difíceis. Fins de relacionamento, então... Aliás, é comum regredirmos alguns (ou vários) graus de maturidade e nos pegar fazendo ou pensando coisas envergonháveis. Mesmo assim, a vida segue e, depois da readaptação, podemos retomar um contato saudável, certo?
Depende. Essa é a conclusão de pesquisadores americanos da University of Arizona. Em artigo publicado na revista Personal Relationships, apontaram fatores que contribuem para a proximidade ou distanciamento pós-namoro. A conta a ser feita é simples:
  • recompensasbarreiras = qualidade do relacionamento pós-namoro.
Recompensas são seus ganhos na interação com o parceiro falecido e barreiras são os fatores que dificultam essa interação.
Mesmo que seus motivos particulares para se manter afastada do traste do seu ex sejam diferentes, esses pesquisadores descobriram que geralmente no pós-namoro, 
a qualidade da relação aumenta quando
  • seu/sua ex provê mais recompensas (de qualquer natureza) e
  • você sente satisfação com essas recompensas,

mas diminui quando
  • sua família acredita que você deve se afastar,
  • seus amigos acreditam que você deve se afastar,
  • um dos dois já tem um novo amor (essa dói na alma...) e
  • um dos interessados agiu com descuido no término (ignorou/foi hostil).
Embora não amenize o sofrimento, assim podemos entender melhor a existência e o funcionamento da vida após a separação. E, como diria o primo do Belchior, quem tem porque sofrer, suporta quase qualquer como.

Observações:

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pense rápido: gay ou hétero?

Apesar das orientações para não julgarmos nossos pares, fracassamos completamente nessa tarefa. Felizmente! Imagine as situações que, abstendo-se de julgamento, você poderia criar
  • na balada: não vale fazer julgamentos sobre gênero, idade e beleza (graças ao álcool, não é preciso imaginar, basta relembrar, não é?)
  • no trabalho: não pode considerar a roupa dos colegas nem suas condições físicas de trabalho
  • na família do seu namorado: não vale inferir as preferências da sogra.
Em suma: precisamos enquadrar as pessoas em categorias que conhecemos (e.g., chefe X estagiário), inferir suas características a partir destas categorias e, somente então, agir (congratular pela vitória do time X mandar buscar a cópia na impressora).
Alguns grupos, como idade e etnia, são mais simples de se identificar. Outros, no entanto, têm características ambíguas. Um desses grupos, orientação sexual masculina, foi o objeto desse estudo de pesquisadores da Tufts University, publicado em 2008 no periódico Journal of Experimental Social Psychology.
Os psicólogos investigaram
quão rapidamente podemos identificar a orientação sexual de um homem,
baseados apenas em fotos de faces.
E a conclusão foi surpreendente:
50ms,
esse é o tempo necessário para julgarmos com precisão (na verdade, nem tanta precisão, mas superior a uma tentativa casual, um chute), a partir do rosto, se um homem é gay ou hétero.
Segundo os autores, tanta presteza pode ter se desenvolvido devido às vantagens que ela traz (identificação de parceiros potenciais) ou ser uma simples constatação da nossa habilidade perceptual. A velocidade é interessante, mas, no dia-a-dia, a precisão é bem mais importante...

Observações:

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mocinhas de atitude

Relacionamento é um assunto bem interessante que, na prática, também é bastante complicado. Entre diversos aspectos, vamos falar do início do relacionamento: a aproximação do casal (me desculpe se você é pós-moderno, mas a pesquisa de hoje foi feita para heterossexuais. Compensarei em outro momento).
Reprodutivamente falando,
  • Homens procuram as mais aptas a cuidar dos filhos 
e
  • Mulheres buscam aqueles com melhores recursos genéticos e financeiros.
Como a dádiva da maternidade requer bastante esforço, as mulheres são mais seletivas do que os homens, tradicionalmente responsáveis pelos passos iniciais na busca da parceira.
Com a independência progressiva da mulher, no entanto, elas têm tomado mais iniciativas. Interessados nisso, cientistas da americana Bucknell University pesquisaram a disponibilidade e as estratégias das senhoritas em busca do príncipe encantado.
Em artigo publicado na revista Personality and Individual Differences, constataram que

As mulheres estão dispostas a assumir o risco da abordagem inicial.

Também verificaram que meninos & meninas consideram como abordagens femininas mais diretas
  • Convidar para sair,
  • Perguntar se ele é solteiro e
  • Passar o número do telefone.
E, de incomensurável UTILIDADE PÚBLICA, concluem que as ABORDAGENS FEMININAS MAIS EFICAZES (anote aí) são..., nesta ordem...,
  1. Convidá-lo para sair,
  2. Insinuar o desejo de sair,
  3. Dar o telefone ou pedir que ele ligue e
  4. Procurar que interesses eles têm em comum.
É isso. Acabaram-se as desculpas. Se você está aí, cansada de assistir Globo Repórter e Zorra Total, prepara-se: anotações no bolso, próximo findi, o Calaf te aguarda!

Observações:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Rabiscando


É possível que você já tenha participado de uma palestra ou reunião bem chata em que todos pareciam concentrados enquanto você daria tudo para fazer algo que te distraísse, mas o bom senso te conteve.
Se a situação lhe soa familiar, saiba que você DEVERIA ter lutado pela sua liberdade! Mais especificamente, você poderia desenhar, assim se lembraria de algo dito durante a apresentação...
É o que conclui um estudo publicado na revista Applied Cognitive Psychology por uma pesquisadora da britânica University of Plymouth
Os participantes ouviram uma gravação semelhante a uma conversa telefônica e foram avaliados quanto ao que se lembravam. No entanto, metade deles teve de preencher uma folha com formas geométricas durante a audição, semelhante aos rabiscos que fazemos no bloco de anotações em casa.
A idéia é a seguinte. Imagine uma situação relativamente entediante:
  • Reunião de definição do grupo de reestruturação da política de valorização das reuniões da sua empresa ou
  • A ligação de domingo para a sua tia de Goiânia ou
  • A palestra sobre organização financeira que sua mãe te obrigou a assistir.
São situações pouco estimulantes (admita, são chatas mesmo) em que o nível de excitação diminui e você tem sua atenção e memória prejudicadas.
A novidade desta pesquisa foi descobrir que 
 aqueles que puderam desenhar 
enquanto desempenhavam a tarefa entediante
 se lembraram de mais informações  
(tanto das importantes quanto das secundárias). 
A pesquisadora propõe duas explicações:
  • Desenhar estimula, diminuindo o tédio e te auxiliando cognitivamente e
  • Desenhar atrapalha, mas impede seu espírito de se desconectar do corpo e viajar por aí.E atrapalhando menos, ajuda.
Enfim, rabiscar é bom. O problema é que quem está com a palavra talvez não tenha lido essa pesquisa e não goste da sua atitude.

Observações:

1. Artigo original: Andrade, J. (2010). What does doodling do? Applied Cognitive Psychology, 24, 100-106.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Em busca de sentido

Uma breve explicação. Em 1945, um jovem austríaco, Vitktor Frankl, escreveu um pequeno livro chamado Em busca de sentido, em que fala sobre a idéia acima. Nota: nos 3 anos anteriores, Viktor fora apenas o 119.104, mais um dos judeus que perdeu a família em campos de concentração nazistas.


Independente de qual seja o seu problema, Frankl resume a história citando Nietzsche (que poderia ser um primo alemão do Murtosa): 

"Quem tem por que viver, pode suportar quase qualquer como."

Ao contrário do que se aprende assistindo Polishop, Dr. Ray e o horário eleitoral, você pode viver sem

  • dinheiro
  • beleza ou
  • poder,

mas é indispensável que

tenha um sentido na vida.

Criar os filhos, cuidar da empresa, amar o amor da sua vida. Não importa, desde que você preencha o 

vazio existencial (ou vida sem sentido),

você tem motivação para seguir adiante. E se sua vida tem sentido, seu sofrimento também terá sentido. O mesmo sentido.
Frankl chama isso de 

a última liberdade humana,

a postura que decidimos assumir diante do que a vida nos impõe.
Essa é a conclusão de um homem que perdeu a família em campos de concentração aos quais sobreviveu. A partir de tanto sofrimento, criou uma nova escola terapêutica (Logoterapia, que não é Logosofia). Vale a levar sua conclusão a sério: talvez você não consegua uma obra tão vasta quanto a dele, mas pode descobrir um modo de vida mais saudável para lidar com o cotidiano.


Observações:

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Bonita camisa, Fernandinho

Há dois posts, a aparência fez 1 x 0 na beleza interior. E o placar acaba de aumentar. Isso não significa que o produto é indiferente, mas mostra como a embalagem pode aumentar as vendas.
Cientistas europeus pesquisaram algo bem simples e interessante: como a cor das roupas atrai homens e mulheres.
Foram fotografadas pessoas com camisetas de cores diferentes, mostrando apenas do ombro para cima. Quando as fotos foram avaliadas por outros participantes, constatou-se que, de forma geral, 

pessoas de vermelho ou preto são mais atraentes (certamente essa é a principal justificativa para o tamanho da torcida flamenguista).

E o mais curioso é que, 

mesmo quando os participantes NÃO PODIAM VER a cor das camisetas,

usuários de vermelho foram considerados MAIS ATRAENTES.
Ou seja: a cor interfere, mesmo que subliminarmente, no próprio comportamento do usuário! De outra forma, as cores ocultas não influenciariam nas notas.
E, não tão surpreendentemente, os usuários de branco e amarelo receberam as menores notas...
Mas eis o que foi realmente genial neste estudo: primeiro, as pessoas de vermelho e de branco tiveram suas fotos foram avaliadas. Depois, a cor da suas camisetas foi invertida digitalmente - o vermelho virou branco e o branco, vermelho. E o que aconteceu?

  • Quem estava de branco, mas foi colorido de vermelho, recebeu notas menores do que quem estava realmente de vermelho;
  • Quem estava de vermelho, mas foi colorido de branco, recebeu notas maiores do que aqueles originalmente de branco.

Essa é mais uma constatação do nosso controle limitado sobre o ambiente e sobre nós mesmos: a mera cor de uma camiseta interfere não apenas no modo como somos vistos, mas na nossa própria postura.
E a lista da nossa limitada condição humana só aumentando...


Observações:

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Homens ansiosos mais submissos

A ansiedade é uma reação bem comum e todos a experimentamos com alguma freqüência – claro, uns com freqüência e intensidade bem maiores que outros...
Pessoas que ficam nervosas em situações sociais do dia-a-dia têm o que chamamos de  

ansiedade social

Certamente você deve ter um amigo que, para evitá-la, vai ao mercado às 7h da madrugada, tremia/enrubescia/gaguejava durante as apresentações da faculdade ou que, quando quer pizza, pede à mãe que telefone para a pizzaria. Sim, esses comportamentos são muito comuns e dão amostras das dificuldades que a ansiedade social pode causar.
Um estudo publicado em 2008 na revista Psychological Science constatou não somente 

mudanças no comportamento

mas também  

alterações hormonais (!)

em situações de tensão social.
Analisando situações de competição, os autores constataram que, entre os perdedores,
  • Os homens ansiosos tiveram queda nos níveis de testosterona;
    • As mulheres não apresentaram alterações significativas
      • Os homens pouco ansiosos socialmente tiveram pequenos aumentos nas taxas de testosterona.
        Há indícios de que mais testosterona está relacionada com maior dominância social e, menos testosterona, com submissão social. A novidade é saber que os homens com alta ansiedade social são os mais afetados por um fracasso público.
        A promessa é boa: ao reduzir sua ansiedade social, pode ser que os homens se submetam menos socialmente e reajam melhor diante de derrotas.

        Observação: devido a minha desorganização, posto provisoriamente este texto em formatação excepcional e sem links... Se Deus quiser, isso será resolvido em breve.

        sexta-feira, 20 de agosto de 2010

        Contingências do amor

        Ao contrário do que diziam Cazuza e minha avó, alguns cientistas (certamente uns mal amados) acreditam que o amor não é uma coincidência. E, para piorar, eles têm alguns bons argumentos.
        No início deste ano, pesquisadores da University of California, Los Angeles, publicaram na revista Evolutionary Psychology um estudo sobre o que faz alguém se apaixonar.
        Supondo que o amor é um mecanismo de comprometimento do casal, pois quando estamos apaixonados,

        desejamos um único parceiro (há relatos de que essa regra tem exceções),

        ele contribuiria para a sobrevivência da espécie, considerando que um ser humano leva muitos anos para a amadurecer e tem mais chances de sucesso quando criado por dois, ou seja, pai & mãe.  
        Considerando que os homens se beneficiariam do envolvimento com múltiplas parceiras, enquanto seria mais auspicioso às senhoritas que mantivessem o parceiro por perto (afinal, não basta ser pai, tem de participar... tem que ser Gelol), a hipótese era que os homens se envolveriam mais facilmente do que as mulheres.
        Entre vários fatores, os pesquisadores encontraram indícios de que estavam certos:
        • homens têm mais amores à primeira vista;
        • homens passam mais vezes pela cruel e constrangedora situação de não serem retribuídos pelo ente amado;
        • homens que susperestimam o quanto são correspondidos se apaixonam mais;
        • homens que valorizam a beleza exterior se apaixonam mais rapidamente por mocinhas com mais beleza exterior e
        • mulheres com mais desejo sexual se apaixonam mais facilmente (ratificando que, para as mulheres, sexo e amor estão mais fortemente relacionados do que para os homens).
        Embora a metodologia (correlacional) da pesquisa não permita falar sobre causas, são evidências de que os cupidos dos homens trabalham mais do que os das mulheres, na ausência de indícios na direção oposta. 
        Só não sei se teríamos o mesmo resultado em uma cultura mais machista, como a nossa...


        Observações:

        segunda-feira, 12 de julho de 2010

        Princípio da Reciprocidade – ou Como nos Enganam Fácil II

        Você já sentiu, depois de receber um favor, uma necessidade de retribuir?
        Segundo Cialdini, essa é uma das mais poderosas armas de persuasão: 

        a reciprocidade.

        Quando nos ajudam, respondemos “Obrigado”. Mas a fala completa seria 

        “Sinto-me OBRIGADO a retribuir”,

        revelando o débito com quem nos auxilia. 

                  Por que? Em sociedade, precisamos uns dos outros. Essa dívida nascida de um favor garante ajuda quando precisarmos, e garante tão bem que pode ser mais importante do que a gratidão. Você certamente já se arrependeu de ter aceitado aquela ajudinha, depois de perceber o preço que tinha de pagar...
                  Aí mora a maldade: imagine se alguém te auxilia exatamente com o intuito de se aproveitar da dívida então criada:
        • Aquele flanelinha indispensável que te lembra para que lado você deve virar o volante e depois pede uma ajudinha financeira,
        • Aquele rapaz simpático que guarda seu lugar no cursinho e, alguns acontecimentos depois, te proíbe de usar apenas saia curta, blusa decotada, cabelo solto e esmalte escuro,
        • Aquela mãe desinteressada que te prepara mamão com granola e suco natural de laranja no café-da-manhã e, no sábado à noite, te pede carinhosamente para ficar em casa assistindo Zorra Total.
        Note a injustiça da relação: muitas vezes, quem age primeiro pode escolher o que oferece, mas quem deve não escolhe como vai pagar:

        Meu caro, fui EU quem te ajudou de coração quando você precisou, agora sou EU quem diz o que precisa.

        O autor aponta uma saída mais simples do que fácil: revelar o jogo. Mesmo que haja gratidão pela ajuda recebida, trata-se de um favor e não de um truque para conseguir algo de volta.


        Observações:

        2. Agradecimentos especiais ao caro Fabio Iglesias, fã do Cialdini, pela sugestão do livro.