quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Terapia para o coração

[Advertência: postagem em linguagem técnica] 
A literatura científica evidencia a relação entre fatores psicossociais1 (estados emocionais, eventos estressores agudos/crônicos e suporte social) e doenças cardíacas, apontando a possibilidade de prevenção e atenuação destas patologias por meio de intervenção cognitiva ou comportamental, como propõe o novo campo da cardiologia comportamental2.
Condições emocionais que são fatores de risco significativo para doenças cardiovasculares incluem
  • Depressão: associada a doenças coronarianas arteriais3 e cardíacas4,5, infarto do miocárdio6,7, isquemia cardíaca8 e parada cardíaca7;
  • Ansiedade: associada a infarto do miocárdio e morte em pacientes com doenças coronarianas arterial e cardíacas9,10;
  • Preocupação: associada à aceleração do ritmo cardíaco e à redução da sua variabilidade11 (fatores de risco para doenças cardiovasculares) e ativação das atividades cardiovascular, endócrina e imunológica12;
  • Agressividade: associada à morbidade e à mortalidade13,14 por comprometimentos cardiovasculares;
  • Estresse: associado a doenças coronarianas arterial e cardíacas15,16, provoca a ativação prolongada da atividade cardíaca17,18.
A interação entre esses fatores e doenças cardíacas é tradicionalmente explicada pela reatividade fisiológica, segundo a qual respostas fisiológicas elevadas durante eventos estressores excitam o organismo19,20, levando a mudanças no balanço fisiológico e conduzindo ao adoecimento. Mais recentemente, entende-se que a perseveração cognitiva (ou ruminação mental) permite um esclarecimento adicional: a inflexibilidade prolonga a ativação cognitiva provocada pelos eventos estressores, estendendo a reatividade fisiológica, o que contribuiria para o desenvolvimento de conseqüências nocivas à saúde, incluindo doenças cardiovasculares17,21.


Referências bibliográficas:

1. Everson-Rose, Susan A., & Lewis, Tené T. (2005). Psychosocial Factors and Cardiovascular Diseases. Annual Review of Public Health, 26, 469-500.
2. Rozanski, A., Blumenthal, J. A., Davidson, K. W., Saab, P. G., & Kubzansky, L. (2005). The Epidemiology, Pathophysiology, and Management of Psychosocial Risk Factors in Cardiac Practice - The Emerging Field of Behavioral Cardiology. Journal of the American College of Cardiology, 45, 637-651.
3. Rozanski, A., Blumenthal, J. A., & Kaplan, J. (1999). Impact of Psychological Factors on the Pathogenesis of Cardiovascular Disease and Implications for Therapy. Circulation, 99, 2192-2217.
4. Bunker, S. J., Colquhoun, D. M., Esler, M. D., Hickie, I. B., Hunt, D., Jelinek, V. M., Oldenburg, B. F., Peach, H. G., Ruth, D., Tennant, C. C., & Tonkin, A. M. (2003). “Stress” and coronary heart disease: psychosocial risk factors. The Medical Journal of Australia, 178, 272-276.
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8. Johnson, A. K., & Grippo, A. J. (2006). Sadness and Broken Hearts: Neurohumoral Mechanisms and Co-Morbidity of Ischemic Heart Disease and Psychological Depression. Journal of Physiology and Pharmacology, 57, 5-29.
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20. Lovallo, W. R., & Gerin, W. (2003). Psychophysiological Reactivity: Mechanisms and Pathways to Cardiovascular Disease. Psychosomatic Medicine, 65, 36-45.
21. Larsen, B. A., Christenfeld, N. J. S. (2009). Cardiovascular Disease and Psychiatric Comorbidity: The Potential Role of Perseverative Cognition. Cardiovascular Psychiatry and Neurology, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2790803/, acessado em 02.02.2010.

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