terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Senhor, dá-me compreensão (e um namoro melhor)

Você provavelmente já teve um relacionamento com alguém especial, certo? Se vocês terminaram e foi difícil saber onde seus caminhos se separaram, talvez a pesquisa de hoje ajude: em uma relação, é mais importante COMPREENDER do que CONHECER.
É fácil perceber (e difícil praticar) que o entendimento é o centro de um relacionamento. Mas é importante separar o entendimento
  • real – ou conhecimento: “Ela adora sushi e arco-íris, mas nunca quer o CPF na nota fiscal”
do
  • percebido – ou compreensão: “Minha Metade da Laranja, você entende minha alma!”
Pesquisas anteriores mostram que ambos são importantes. Mas, para saber qual deles traz mais felicidade, duas pesquisadoras holandesas entrevistaram cerca de 200 casais e constataram algumas coisas interessantes:
  • você conhece Sua Alma Gêmea menos do que imagina (e fica aí se achando esperto, né?) 
  • não é tão importante se minha Cara-Metade me compreende de verdade, basta eu me sentir compreendido (essa pisa no orgulho alheio) 
  • compreensão hoje é um bom sinal de confiança, adaptação e intimidade no futuro do casal 
  • e, o mais importante: na relação, sua felicidade depende muuuuito mais de você compreender e ser compreendido (já rogava São Francisco...) do que de conhecer e ser conhecido
Portanto, economize nas disputas, não interessa quem realmente esqueceu a toalha molhada na cama...  Um relacionamento – essa é para colar na porta da geladeira! – mais feliz (agora e no futuro) depende de como o casal se sente um em relação ao outro. Isso é mais fértil do que cobrarem uma avaliação precisa um do outro.

Observações:

1. Artigo original: Pollmann, m. M. H., Finkenauer, C. (2009). Investigating the role of two types of understanding in relationship well-being: Understanding is more important than knowledge. Personality and Social Psychology Bulletin, 35, (11), 1512-1527.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Desabrochando no poder

Você já teve um colega que ficou estranho depois de ser promovido? Eu já, e fiquei confuso ao saber que, diferente do que pensava, PODER promove SENSIBILIDADE. É o que afirma esse artigo publicado em novembro no Journal o Personality and Social Psychology.
Imagine duas pessoas: uma tem poder (controla ou influencia alguém - e.g, chefe, esposa) e a outra não (influenciada pela anterior - e.g., você, você). Estudos anteriores sugerem que a pessoa que está no poder
  • encara as situações como um todo ("Você é menos útil que um peso de papel!")
e a pessoa que não está
  • se concentra nos detalhes ("Mas eu troquei a lâmpada da sala em setembro!")
O foco desse trabalho foi investigar a relação poder - sensibilidade interpessoal (pode chamar de empatia). Até entre os pesquisadores é confuso como estas duas condições se relacionam. Mas os resultados foram claros. Você se torna mais sensível às condições alheias se você:
  • tem mais poder (embora ter menos não te torne bruto)
  • dá atenção aos outros (e não só aos resultados) quando está no comando
  • tem seu poder aceito pelos subordinados
  • se sente orgulhoso e respeitado na sua posição.
O melhor é que não precisa nascer assim, é possível melhorar sua liderança com planejamento. Principalmente se mais atento aos outros, você terá mais sentimentos positivos (orgulho e respeito) que te ajudam a ser mais empático. Se você também frequenta posições sociais desempoderadas, me ajuda a divulgar esse post, vai ser bom para nós dois!

Observações:

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Terapeutas à flor da pele

Quem convive com psicólogos clínicos fora do nosso ambiente natural, o consultório, sabe que somos pessoas normais (tá, nem sempre...). E, como tais, também ficamos mal por problemas no trabalho. É o que mostra um estudo de dois psicólogos goianos publicado no Journal of Psychotherapy Integration.
Não sei as outras profissões, mas essa é confusa. O envolvimento genuíno com o cliente tanto pode provocar (no terapeuta)
  • stress, sentimentos negativos e exaustão emocional
como
  • satisfação, realização e influência positiva na personalidade e na vida pessoal
Muito bons os efeitos positivos, mas... e os negativos? As entrevistas da pesquisa mostraram que, principalmente quando os pacientes são resistentes, nós psicólogos somos beeeem normais e temos reações beeeem negativas:
  • stress (e se paciente e terapeuta têm histórias parecidas...)
  • auto-crítica
  • raiva (um dos relatos: "Senti um ódio mortal, senti vontade de arrancar seus olhos"! Deus me ajude a esquecer isso na minha próxima terapia...)
  • culpa
  • desamparo
  • ruminar o problema fora do consultório
O lado feliz: os efeitos negativos podem ser um reflexo das relações do paciente. Se o psicólogo percebe isso, aceita e explora a expressão do paciente (mesmo a negativa!), estabelece uma situação nova - o paciente é aceito como ele é e pode aprender a interagir de forma mais saudável.
Isso é um sucesso terapêutico (o terapeuta vibra, ainda que pareça tranquilo): o enfraquecimento das expectativas irreais que todos temos nos relacionamentos.

Observações:

domingo, 13 de dezembro de 2009

Se conselho fosse bom...

Se conselho fosse bom, não era de graça.
É o que dá vontade de dizer quando algum chato vem dar palpite sem ser convidado. Mas... o palpite pode ser a melhor saída!
É o que diz um estudo publicado em março na revista Science. A idéia é a seguinte: se tenho de prever como vou me sentir em alguma situação (e.g., casamento), faço uma previsão afetiva (serei muito feliz). Aí mora o perigo (na previsão):
  • baseamos o futuro no presente (mas o futuro provavelmente não será como o presente)
  • pensamos nos aspectos principais (construir um lar com a pessoa amada), mas não nos secundários (retirar o cabelo que a pessoa amada esqueceu no sabonete)
  • pensamos nos aspectos iniciais (lua-de-mel) e esquecemos os posteriores (feriados na casa da sogra)
Os pesquisadores constataram que, para saber como você vai se sentir,
  • é melhor saber como se sente alguém do seu contexto (um vizinho social) que já passou pela situação do que saber sobre a própria situação
O problema é que depois também descobriram que ninguém acredita nisso. Afinal, como posso aceitar que até mesmo um estranho saiba mais sobre a MINHA vida do que eu???
Mas é verdade. Por pior que seja, pode valer a pena refletir da próxima vez que você ouvir "Eu já passei por isso, sei como é...".

Observações:
  1. Artigo original: Gilbert, D.T., Killingsworth, M. A., Eyre, R. N., Wilson, T. D. (2009). The Surprising Power of Neighborly Advice. Science, 323, 1617-1619;
  2. O grande psicólogo Daniel Gilbert, da Harvard University, primeiro autor deste estudo, também é autor de Stumbling on Happiness (a tradução poderia ser 'Tropeçando na Felicidade'). Esse livro é uma análise bem mais ampla e detalhada destes e de vários outros erros de pensamento em que tropeçamos diariamente, ajudando a entender porque não alcançamos a felicidade tão desejada. Mas, no fim do primeiro capítulo, ele já antecipa: "Eu vou concluir [o livro] falando sobre um remédio simples [seguir o conselho do vizinho social] para essas ilusões que você quase certamente não aceitará".

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mais chiclete, menos stress

Sim, mascar chiclete é algo banal, mas há muitas evidências de que esse hábito simples pode ajudar a combater o stress. Isso, e mais um pouco, é o que conclui uma recente pesquisa feita na Cardiff University, no Reino Unido.
Já havia mostras de que mascar chiclete pode te deixar mais alerta e melhorar o desempenho, assim como reduzir a ansiedade, o estresse e melhorar o humor. As novas e boas notícias são as vantagens dos mascadores de chiclete (chicleteiros, não...) em relação aos não-mascadores:

  • menos estressados no trabalho;
  • um pouquinho menos depressivos;
  • metade das chances de serem extremamente estressados;
  • metade das chances de terem pressão alta e
  • metade das chances de terem colesterol alto.
Por outro lado, os mascadores estão mais expostos a condições negativas no trabalho e têm mais chances de serem fumantes.
Esse estudo apenas diz que existem essas associações entre uma condição e outra. Ainda não dá para dizer que mascar ou não chiclete causa isso ou aquilo. Mesmo assim, é bem interessante que um comportamento tão simples possa ajudar a reduzir o estresse e minimizar seus efeitos colaterais na saúde.
Então, se no fim do mês não tiver chegado nenhum panetone à sua casa e você ainda tiver de assistir o especial do Roberto Carlos, pode ser uma boa idéia ter um Trident de reserva no bolso. 

Observações:

1. Artigo original: Smith, A. p. (2009). Chewing gum, stress and health. Stress and Health, 25, 445-451.