quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Traições mnemônicas

Quem nunca se empolgou para contar aquela piada, aquela história incrível a um amigo e, pouco depois de começar a narração, foi constrangedoramente interrompido pelo comentário “Mas fui EU quem te contou isso!”? Pois bem, esses que atirem a primeira pedra.
Estamos todos seguros, provavelmente ninguém vai atirar nada (pelo menos, não por isso). Psicólogos americanos constataram, em um estudo publicado na revista Psychological Science, que se trata de um tropeço natural da memória e pode surpreender qualquer um de nós. Vamos entender.
Memória de origem – identifica a fonte da informação.
Fundamental quando, no consultório, me lembro da história de cada paciente, sem confundi-los.
Memória de destino – identifica o destino da informação.
Fundamental quando você, com a melhor das intenções (sempre!), contou diferentes versões de um mesmo fato para diferentes pessoas. Para sustentar sua mentira (nome que se dá a este outro fenômeno...), é imprescindível saber para QUEM você contou O QUÊ.
No entanto, essas memórias funcionam diferentemente.
Quando recebemos uma informação, estamos  
focados no contexto
Associamos seus elementos (e.g., a história que ouvimos e seu narrador) e essas associações nos ajudam a lembrar o que aconteceu com quem e quando. Por isso, a memória de origem é mais precisa.
Quando passamos uma informação, além do contexto, estamos bastante 
focados em nós mesmos
no modo como contamos. Ou seja, ficamos divididos entre nós mesmos e o outro, que recebe menos atenção. Por isso, a memória de destino falha mais.
Em resumo: atenção e memória trabalham juntos. Diminuindo o foco em si mesmo – que pode não ser simples, se você vive nessa cultura –, sua memória agradece e promete te constranger menos.

Observações:

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